NOITES DE VAGALUMES - Conto
Como de costume... aquela era mais uma viagem a pé de volta para casa, após uma festa em um dos sítios vizinhos. Isso era um hábito entre os moradores daquela região; após o término de um festejo, era comum a formação de grupos de pessoas, que combinavam ir embora juntas e se divertiam tanto enquanto caminhavam no cerrado; entre plantações e pastos, que aquilo até parecia a continuação do festejo!
Naquele tempo, as pessoas pereciam conviver em maior harmonia com a natureza, a ponto de darem a impressão de que não tinham muito medo dos animais selvagens; suas maiores preocupações eram apenas com as cobras, para evitarem que alguém pisasse em alguma, contavam com lanternas e dependendo da fase da lua, a escuridão era tanta que até as luzes dos vagalumes lhes favoreciam.
Andavam tranquilamente pelo mato; iam contando casos, conversando sobre fatos ocorridos na festa e de trechos em trechos paravam para se despedir de alguns que iam ficando pelo caminho, ou seja, que iam chegando em suas casas. E por mais longas que fossem as caminhadas, os percursos pareciam curtos diante do quanto aquelas andanças eram descontraídas!
Os grupos, eram em sua maioria, formados por famílias inteiras; pois os pais das donzelas faziam questão de acompanhá-las; raramente algumas tinham a permissão de sair na companhia de seus irmãos mais velhos, ou de pessoas mais velhas, nas quais os pais confiavam e lhes davam a incumbência de cuidarem de suas filhas.
Uma dessas famílias era a Honorathos; composta por pai, mãe e três filhos; Luanara era a única filha do casal, a segunda dos três. Muito jovem e também bela, era a razão de muitos rapazes serem presenças cativas nas festanças do Vale da Ladeira, um vasto território, onde se localizavam diversas propriedades rurais.
Naquela volta para casa, Luanara torceu gravemente o pé, de modo que não conseguia mais andar, então coube a seu pai e a seu irmão mais velho carregá-la.
Estava na companhia da família, Gasthon, um formoso jovem, primo do pai da moça; estudante de fisioterapia, que já havia constatado a gravidade do problema, pediu permissão ao primo, a quem chamava de tio e se ofereceu para fazer uma massagem no local da torção; com permissão concedida, ele não mediu esforços para tentar amenizar o sofrimento da prima; ainda fazendo uso de seus conhecimentos para proporcionar um pouco de alívio à bela jovem, de repente se sentiu surpreendido por uma sensação jamais experimentada por ele, algo novo, diferente de tudo que já havia sentido por alguém e percebeu que da parte de Luanara também havia algo diferente; com rostos bem próximos, olhos nos olhos; lhes era cúmplice a luz da luminária... que lumiava praticamente só aquelas lindas pernas!
Porém, as luzes dos vagalumes que pareciam fazer uma coreografia naquela noite tão escura, brilhavam mais do que confetes, embelezando ainda mais aquela cena romântica. Se sentindo sobremaneira envolvido, se encorajou e disse ao tio, ou primo – respeitosamente, quero pedir ao senhor que permita-me ajudar a carregá-la – o tio permitiu.
Feliz, eufórico; Gasthon nem percebia a distância que percorria com a moça nos braços; se não fossem o pai e o irmão de Luanara dizer para revezarem, ele sozinho a carregaria até chegar em casa e em um desses revezamentos; aproveitando a distração de sua família, tendo como testemunhas apenas as luzes dos vagalumes, eles se beijaram.
Contudo; na empolgação daquela súbita paixão; foram flagrados pelo pai da moça, o qual ficou furiosíssimo! Não exatamente pelo grau de parentesco dos jovens, mas por ver traída a sua confiança. Muito sério, sistemático, com aquela braveza de homem do campo, ele colocou, na escuridão da noite, o seu primo para correr!...
E Luanara; ficou apenas com as lembranças daquela paixão repentina; daquele lindo sonho, que em uma noite começou e naquela mesma noite acabou!
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