SEPARADOS NÃO POR ACASO... - Conto




       Os desencontros... a distância... o tempo... a saudade!... São meus e teus rivais Flormarinha; pensava alto, Ryener, falando para si mesmo sobre o desgosto de viver longe, de viver sem o seu grande amor. Como se estivesse frente a frente com sua amada, a que carinhosamente apelidou de Flormarinha, a junção de Flor Maria, seu nome, com minha; para não ter que dizer ao se referir a ela: Flor Maria minha, então amavelmente a chamava de Flormarinha.
        Ambos, há muito dolorosamente, não por acaso se encontravam separados; impossibilitados de viver seu imenso amor e de se verem, adotaram o meio de comunicação já não mais usual, as correspondências ou cartas. Mas não como aquelas antigas cartas de amor; criaram para si uma maneira bem peculiar, para se corresponderem: cartas com apenas seus respectivos endereços e com conteúdos puramente poéticos; as respostas dadas um a outro, são sempre em forma de poesia, o que à distância melhor retrata e expressa tão grande amor.
 E  partiu dele a iniciativa da primeira carta; com apenas uma emocionante e pequena poesia:

Flormarinha...
Deste ano, já é dezembro
E daquele setembro,
Ainda, como se fosse hoje,
Me lembro!...

O tempo passa...
Minhas esperanças ficam escassas;
Por vezes envolve o meu ser,
Um profundo desalento.
Desnorteia o meu viver,
O quanto e porquanto lamento!...

        Ao pôr seus olhos sobre a carta; a razão do viver e do padecer de Ryener, se viu sem ar; ao ler a poesia, não conteve as lágrimas, sentiu-se perto do amado e era em anos, o mais próximo que se pode estar dele; embriagada por uma extasiante sensação; de imediato tratou de corresponder-lhe:

Nesta tua poesia;
Vislumbro o que seria,
Todos os meus dias,
Ao lado teu.

E minh'alma não consegue sossegar...
Por quão triste o tempo que neste mundo,
Hei de passar,
Sem ter-te ao lado meu!

     Ao se deparar com a correspondencia de Flormarinha, contendo aquela poesia, com emissão de separados para sempre; Ryener viu quão melancólico o estado de sua amada, então de pronto escreveu-lhe, com a seguinte poesia:

Querida, querida minha...
Minha tão somente Flormarinha,
Flor Maria minha.
Ainda é tempo e tempo há...
De e para sermos felizes,
Não talvez como sempre se quis;
Todavia, ainda é tempo e tempo há...
Para sermos felizes!

        Flor Maria silênciosamente pranteou sobre aquelas românticas e lindas palavras e respondeu ao seu amado assim:

Os nossos sonhos jamais poderão ser os mesmos;
O tempo nos transforma;
Transforma sonhos em pesadelos,
Assim como desejos, 
Em medos.

Já não posso mais lhe dar filhos,
Nos meus olhos, não há mais brilho,
Minha pele perdeu o viço,
O tempo prestou-me tais desserviços.

Ao escrever esta última estrofe, Flormarinha, viu brotar águas que pareciam emergir do mais profundo do seu ser, enviando a Ryener uma poesia com marcas evidentes de seu intenso sofrimento!

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