OUTDOOR... - Conto (macroconto)

Elôy e Rayna se conheceram e no mesmo instante se apaixonaram, viveram intensamente o que diziam ser o maior de todos os amores, daqueles que quem o assiste, jura que nunca vai acabar, que durará para sempre!

E foi realmente assim, o amor jamais acabou, resistiu a tudo que precisou resistir, o que não impediu que Elôy e Rayna viessem a ser separados e se perdessem um do outro; se perderam na vida, no tempo; de tal modo que passaram a não ter notícia um do outro.

Eles sofreram muito ao serem separados e o passar do tempo não amenizou aquele suplício, muito menos a intensidade daquele amor!

Os responsáveis por separá-los, talvez não pensassem, não percebessem que aquele amor sobreviveria à distância, ao tempo; tampouco imaginavam que Elôy e Rayna mesmo distantes e depois de anos ainda se amassem tanto!

O sofrimento de Rayna era cada vez mais intenso, pois o amava talvez ainda mais! Porém, à sua maneira... contida... inerte, amargando... o decorrer da vida!...

Elôy, por bastante tempo, viveu uma espécie de luto por ser privado de viver aquele amor; contudo, não conseguiu ser tão passivo, cansado de sofrer a perda... a ausência de Rayna e se vendo aos trinta e cinco anos com a vida estagnada, paralisado por aquela dor causada pelo estar longe de seu grande amor e por não saber onde encontrá-la, pois parecia ter se criado um abismo entre os dois; mas, sabendo que ela ainda se encontrava em algum lugar daquela metrópole, decidiu agir e fazer o que fosse preciso, o possível e até o impossível para encontrar sua amada.

Contudo, isso devia ser feito sem que algumas pessoas sequer desconfiassem, para não correrem o risco não apenas de serem separados novamente, mas de serem impedidos de se reencontrar, portanto, praticamente ninguém podia perceber que ele estava à procura de Rayna.

Então, ele teve uma idéia, a única chance segura de encontrá-la sem despertar a atenção dos que ele não devia. A idéia foi: espalhar pela cidade outdoors com uma bela mensagem, que chamasse a atenção de sua amada, que tocasse fundo seu coração, mas a mensagem por si só não seria suficiente para que ela tivesse certeza de se tratar dele; então, ele pediu que escrevessem com a sua letra, que era inconfundível aos olhos de Rayna.

A mensagem era a seguinte:  "querida, bem sei quando e onde nos encontramos, onde nos achamos; porém, não sei exatamente onde nos perdemos!..."

Era um enigma, sim, era um verdadeiro enigma; porém, Elôy sabia que ao se deparar com aquele outdoor exalando romantismo, com o chamativo e belo desenho de um coração, Rayna se deteria; aquilo lhe chamaria atenção e a declaração de amor contida nele, escrita dentro do feitio de um coração, embora enigmática não lhe deixaria dúvida de se tratar de um vestígio indicando que o amor de sua vida, estava à sua procura.

E exatamente assim aconteceu; após a execução de seu plano, não demorou muito e em um determinado dia, ao se deslocar de carro por aquela grande cidade, Rayna se deparou com o primeiro outdoor e sua primeira reação foi de relutância, contudo, bastou rodar mais um pouco para ela encontrar não apenas mais um e sim vários outros outdoors iguais ao primeiro; mas, o que de fato a conveceu de se tratar de seu Elôy, foi avistar junto ao parque e bem de frente ao local onde se encontraram pela primeira vez, o último daqueles outdoors.

Com os olhos lacrimejantes e lhe faltando o ar para respirar, ela ainda conseguiu se dar conta de que nenhum dos que se encontravam ao seu lado podia perceber que ela estava emocionada; silenciosa, ela pensava no como fazer para reencontrar Elôy, então se deu conta que aquela frase escrita dentro do coração daqueles outdoors já lhe dizia tudo e a partir dali, com o máximo de freqüência que pôde, passou a ir ao local onde haviam pela primeira vez se encontrado e se encantado!

O que não se podia prever era a doença que acabou por acometer Elôy; nada muito grave, mas o suficiente para deixá-lo um tanto quanto abatido e impossibilitado de ir ao local onde tinha certeza de que Rayna quantas vezes pudesse ia comparecer e por algumas vezes ela esteve ali; sem encontrá-lo, pensou em desistir, pelo quão arriscado era para ambos continuar insistindo... sem sucesso; contudo, vislumbrar a possibilidade de rever seu grande amor, trouxe-lhe novo ânimo para a vida, era a primeira e grande chance em anos!

E em uma bela tarde, mais uma vez ela conseguiu sair e tiveram a imensa felicidade de se encontrar, era a terceira tentativa de Elôy; em uma das outras duas vezes, foi em um dia em que Rayna nem esteve no lugar em que suas vidas se cruzaram, o que o deixou após horas aguardando, com dúvidas de que seu plano daria certo; a outra vez, ele chegou naquele ponto do parque, pouquíssimos minutos depois de Rayna ter ido embora. E quando finalmente se encontraram, pareciam se amar ainda mais do já se amavam, se é que isso era possível e em meio aos beijos, abraços e muitas carícias, planejaram se encontrar de novo sete dias depois, com tudo o que pudessem levar sem levantar suspeitas; planejaram fugir de carro para o Uruguai e começar sua tão sonhada vida a dois em alguma cidade bem pacata daquele país, onde viveriam felizes e tranqüilos, com pouquíssima má sorte de serem descobertos pelos seus algozes, pelos algozes daquele amor!

Para isso, não podiam levantar a mínima  suspeita e precisavam abrir mão de praticamente tudo o que possuíam, pois tentar desfazer do que quer seja, alertaria os opositores de sua linda história de amor, que por muito tempo os monitoraram de maneira meticulosa e ininterrupta, porém, precisavam de recursos para recomeçar, principalmente longe de seu país. Elôy tinha guardada uma boa quantia em dinheiro, Rayna por sua vez, quase que somente suas jóias.

Como parte do seu plano de fuga, ela se matriculou em um curso de automaquiagem, pois além de precisar de tempo, ainda necessitava de justificativas para portar uma maleta; o que era necessário para que ela pudesse levar uma muda de roupa e suas jóias.

Encorajada pela oportunidade única de finalmente poder viver aquele imenso amor, na sua última noite de clausura e de posse da senha do cofre, pegou todas as jóias e um pequeno valor em  dinheiro escondido entre elas. Tomada pela ansiedade e bastante tensa, ela não conseguiu dormir, porém, procurou ficar quieta em sua cama, para evitar chamar atenção.

Transcorrido quase todo o dia, Rayna se aprontou para a sua segunda aula, era o que ela pensava fazer acreditarem, embora para caso alguém quisesse confirmar, ela realmente fez questão de ir ao curso, no primeiro dia; todavia, na verdade ela não estaria mais naquele instituto na Avenida Central, seu destino era o Uruguai e antes disso, os braços de Elôy!

Contudo, por precaução e para se assegurar de que não seriam surpreendidos, Rayna primeiro dirigiu-se ao curso e de lá seguiu a pé para o parque, deixando para trás estrategicamente, o carro, que pouco dirigia e somente para alguns destinos previamente comunicados. Feliz e certa de rumava à felicidade, Rayna parecia voar ao encontro de seu amado, quando de repente, sentiu em um puxão, ser-lhe tirada  a maleta com suas jóias, acreditando ter sido assaltada, corria em direção ao parque; enquanto isso, sem que ela sequer imaginasse, seu amado era coagido e submetido a todos os tipos de pressão, por quem tanto os havia feito sofrer, desorientado por completo, Elôy foi arrancado dali e mais uma vez, da vida de Rayna, a quem conseguiram convencer de que na verdade ele não fora destemido o suficiente para enfrentar as possíveis conseqüências de sua fuga com ela.

E não vendo-o, gritando desesperada por Elôy sem que ouvisse o som de sua voz, se sentindo desamparada e desnorteada, ela voltou, para aquele estado mórbido, para sua morte em vida!...

Logo após conseguir se assossegar, Elôy ainda muito abalado, porém, em plena capacidade de raciocínio, sabendo que a situação deles que já era extremamente difícil havia se tornado completamente sem solução, de certa forma contentou-se com a realidade, a de amar Rayna para sempre à distância e resolveu externar isso em um outdoor, a exemplo do que já havia feito e com uma escrita dentro de um coração dizendo: "sei que estaremos eternamente juntos, pois esse nosso amor nos manterá unidos para sempre, apesar de nos ser negado o direito de vivê-lo, submetendo-nos a esse perverso martírio; contudo, me nego a fazer qualquer que seja o esforço para não sofrer, pois padecer dessa dor é a punição que a mim imponho, por mais uma vez deixar que a arrancassem de mim!"

Alguns dias após Elôy fazer isso, Rayna passou próximo ao parque, viu naquele mesmo outdoor essa nova declaração e choro muitíssimo! Mas não era o fim; ainda restava-lhe uma vida para viver, sem Elôy!